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ENTREVISTA DA SEMANA: Edvaldo Del Grande

Data: 19/05/2016 00:00

Autor: OCB

O cooperativismo sempre foi e sempre será a solução para os momentos de crise de qualquer país. A afirmação é do secretário-geral da Diretoria da Organização das Cooperativas Brasileiras, Edivaldo Del Grande, também presidente da Ocesp. Ele é o entrevistado da primeira edição da revista Coopera SP, lançada recentemente pela organização estadual paulista. Segundo ele, o diferencial das cooperativas – seus cooperados – representa o grande apoio para a economia do país nesses momentos de crise. “É evidente que vivemos um momento de apreensão e de aperto de cintos, mas acredito que vamos superá-lo. Tenho certeza que vamos sair dessa”, avalia Del Grande. Confira abaixo um trecho da entrevista que pode ser lida, na íntegra, clicando aqui.

Como foi a evolução do trabalho de representação do cooperativismo nos últimos anos?

Del Grande – 
São muitos desafios, pois há grande diversidade no cooperativismo paulista e precisamos atuar de forma efetiva para fortalecer o nosso movimento como um todo. Um dos maiores desafios é melhorar a nossa comunicação com as cooperativas e os diversos setores da sociedade. Por isso, reforçamos a equipe de comunicação e marketing. Precisávamos mostrar o que nós somos e a importância das cooperativas no contexto social.

Afinal, desempenhamos papel relevante na inclusão social. Ao mesmo tempo, precisávamos combater o mau uso de ‘cooperativas’ por pessoas que têm como único objetivo enganar o trabalhador. Infelizmente, ainda há fraudes no mercado, desvirtuando completamente o sentido de uma cooperativa.

Não compactuamos de forma alguma com isso, porque na verdade essas não são cooperativas; são empresas de fachada que nos atrapalham e mancham o nome do cooperativismo. Então, nossa tarefa era separar isso do verdadeiro cooperativismo. Tivemos que trabalhar para mostrar que éramos um movimento justo e inclusivo, de melhoria de vida das pessoas.

Simultaneamente, nós também precisávamos estar mais próximos das cooperativas, porque o movimento cooperativista, de certa forma, não nos conhecia bem e ainda não nos conhece inteiramente; daí a necessidade de melhorar a comunicação interna. Tínhamos que mostrar que a Ocesp tem papel muito importante para fortalecer o cooperativismo e, para isso, precisávamos aprimorar a nossa representação política. Acredito que houve avanços importantes nos últimos tempos, mas ainda há muito a ser feito.

Como o senhor vê a questão da intercooperação entre as cooperativas paulistas?

Del Grande –
 Precisamos avançar muito neste campo. O Roberto Rodrigues (ex-ministro da Agricultura) sempre diz que falamos muito em intercooperação e a praticamos pouco. O Sescoop/SP tem formado muitos gestores; foram mais de 66 mil pessoas capacitadas apenas no ano passado, desde funcionários de cooperativas, cooperados, dirigentes de cooperativas e até pessoas da comunidade. A educação é um caminho para que todos possam compreender que cooperativismo é associativismo, que precisamos nos associar, que precisamos aumentar os ganhos de escala, diminuir custos. Se sou um agricultor, percebo que sozinho não posso comprar um silo; mas se me associo a um grupo de agricultores, podemos comprá-lo juntos. A mesma coisa ocorre na área da saúde e outros setores também. 

Quais são os grandes desafios de mercado para as cooperativas atualmente?

Del Grande 
– Apesar das particularidades de cada empreendimento, acredito que existem questões em comum que podem ser aprimoradas. Realizamos recentemente, em parceria com o Ministério da Agricultura, um excelente programa de formação da Fundação Dom Cabral voltado diretamente aos negócios cooperativistas. Fizemos o curso com as dez maiores e as dez menores cooperativas do setor agropecuário. Muitas vezes as cooperativas acham que os grandes adversários são outras cooperativas, que concorrem entre si, mas não é bem assim.

Muitas vezes, a concorrência maior vem de fora. O que realmente me preocupa são as cooperativas e empresas multinacionais que estão chegando ao nosso país. Como a Land O’Lakes, uma das primeiras cooperativas de captação de leite dos Estados Unidos – responsável por grande parte do leite americano – e está vindo para o Brasil. Ou a CHS, que já está produzindo um milhão de toneladas de soja aqui na região central e remetendo diretamente para a China. Essas empresas vêm para cá explorar nosso mercado. 

E por que o trabalho que elas desenvolvem não poderia ser feito pelas nossas cooperativas? Voltando ao assunto da intercooperação, poderíamos começar fazendo coisas simples, como criar um software único, ou uma central de informação conjunta, fazendo compras conjuntamente – não necessariamente criando uma cooperativa de compras.

É esse espírito de intercooperação que precisamos despertar nas nossas cooperativas. E os bons exemplos já existem. Veja a Coopbrasil, que é a cooperativa central de compras das cooperativas de consumo, com 11 cooperativas associadas, inclusive uma da área médica e uma do setor agrícola. A Coopbrasil mostra como o trabalho conjunto traz melhores resultados. Esse é o grande diferencial.

A partir dessa união, é possível avançar muito mais em outros campos, como ter uma bandeira única, uma distribuidora. Algumas cooperativas de crédito já unificaram seus logos, iniciando um processo de intercooperação na própria marca. Portanto, existem experiências positivas em andamento que precisam ser intensificadas e podem envolver cooperativas em diferentes setores.

Como o senhor vê o papel do cooperativismo na superação da crise?

Del Grande
 – Eu sou otimista, apesar do momento conturbado que vivemos. Enquanto alguns choram, outros vendem lenços. Veja: na época do subprime americano, enquanto os bancos tiveram sérios problemas, as cooperativas de crédito cresceram. O modelo cooperativista mostra-se mais seguro.

Na atual crise, aqui no Brasil, as cooperativas de crédito estão crescendo novamente. A agricultura também está indo relativamente bem. Claro, somos 13 ramos de cooperativas no Brasil e alguns setores sentem mais que outros. Mas, de maneira geral, o cooperativismo sempre foi e sempre será a solução para os momentos de crise de qualquer país. As cooperativas são um caminho sustentável porque, sempre é bom lembrar, nosso objetivo não é apenas econômico, é principalmente social; o foco está nas pessoas, nos nossos cooperados.

Esse é, portanto, o diferencial das cooperativas, que acaba apoiando o país nesses momentos de crise. É evidente que vivemos um momento de apreensão e de aperto de cintos, mas acredito que vamos superá-lo. Tenho certeza que vamos sair dessa.

 
Fonte: Sistema OCB
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